A identidade entre os planos da escrita e do amor poder fazer de um texto de casuística amorosa - como aquele com que abre o Cancioneiro de Resende - uma referência fundamental quando se pretende saber de que modo a sociedade cortesã da segunda metade do século XV encarava a sua produção poética e de que forma se relacionava com e no espaço da linguagem. Num lugar teatral como o da corte, este debate de amor, que ocupou os serões do paço entre 1483 e 1484, procede a uma quase encenação da própria escrita: processos argumentativos e forças de tensão da lírica tornam-se personagens de um debate só aparentemente sustentado por figuras reais.