Rui Chafes nasceu em Lisboa (1966) e licenciou-se em escultura pela ESBAL. Na Assírio & Alvim publicou vários livros com as suas esculturas («Würzburg Bolton Landing», «Durante o Fim», «O Silêncio de…»), escolheu e traduziu «Fragmentos» de Novalis.
Reunindo a autobiografia do escultor (tão exacta quanto a memória o permite) e o registo de uma sua conferência, «Entre o Céu e a Terra» testemunha uma posição no mundo e, ao mesmo tempo, a dificuldade de resistir, sem nunca desistir.
Também a resistência poética que uma obra oferece, inclusivamente ao seu próprio autor, é a medida da sua qualidade. Uma obra de arte exige trabalho e esforço do público, não pode ser apenas mais um sedutor espectáculo para preguiçosos. Ela não deve menosprezar o espectador, tem de o ajudar a defender a sua dignidade nesta era de massificação, banalização, frivolidade, superficialidade, efemeridade mediática, consumismo desenfreado e sensacionalismo que espelham a vacuidade dos desígnios desta civilização do espectáculo que nos habituámos a aceitar com passiva indiferença.
Na esterilidade deste vazio, não se pode desistir de procurar a beleza e a verdade. Há que densificar o trabalho, para que possa existir espírito e pensamento. Será necessário instaurar pontos ásperos, baços, rugosos, e foscos num mundo escorregadio, brilhante e digital. «Luz e trevas são a mesma coisa, em ambas reside a mesma energia. Quem possui ouro no seu âmago tem de aprender a trabalhar com ele, para que as outras pessoas consigam ver que, por trás da aparente escuridão, existe um ser de luz, um ser luminoso. A luz vem das trevas, pois é aí que nasce a luz.» ["O perfume das buganvílias", «Entre o Céu e a Terra»]