Ao desvendar os mecanismos do tráfico de escravos entre a África e o Rio de Janeiro no período de 1790 a 1830, Em Costas Negras (Prémio Arquivo Nacional de Pesquisa de 1993) traz à luz dados e formulações até hoje negligenciados por clássicos da historiografia brasileira. Por meio de uma leitura cuidadosa de documentos - listagens dos navios negreiros, inventários post-mortem e registos imobiliários - e de uma aplicada metodologia estatística, o historiador Manolo Florentino vincula, de modo definitivo, o comércio de almas à demanda crescente de mão-de-obra da economia fluminense, interligando-o também às formações africanas envolvidas no tráfico e à comunidade mercantil do Rio de Janeiro. No centro dessa engrenagem, o autor destaca a figura complexa do traficante carioca, em geral dono de grande fortuna e parte integrante da elite económica, cuja actuação, longe de se restringir ao Brasil, estendia-se a Portugal, África e aos portos de Goa e Macau. Extremamente original, Em Costas Negras realiza uma inovação profunda nos nossos estudos sobre a escravidão.