Ó Portugal, hoje, és nevoeiro…”, escreveu Fernando Pessoa, quase no final de a Mensagem.
e, então, tudo esqueci nasceu de uma espécie de neblina pessoal e coletiva que, de novo, quase 85 anos depois de produzido o verso de Pessoa, se abateu em todos os cantos e recantos da nossa realidade. Trata-se de uma narrativa ficcional em prosa, dificilmente qualificável, em discurso parabólico, constituída por 21 fragmentos. Cada uma destas peças contém um tributo mais ou menos oculto e faz parte, de alguma forma, de uma ideia geral que conecta - explicita ou implicitamente, individual ou generalizadamente - todas elas. Nino Rota, Jean Duché, Machado de Assis, Nuno Bragança, Nicolau Gogol e Éric Satie são somente algumas das personalidades subliminarmente homenageadas.
Talvez este livro possa deixar a imagem de uma alegoria circense da existência humana, em que todos, e ao mesmo tempo, fossem vistos como palhaços ricos e palhaços pobres, equilibristas, malabaristas, acrobatas, contorcionistas, ilusionistas, domadores de feras (ou o seu alimento) de um círculo mágico descomunal, distraidamente administrado por um responsável supremo que, no fim de contas, parece nem sequer ser necessário. E mais: talvez possa, também, ser contemplado como uma firme afirmação de resistência às doutrinas da inevitabilidade, da irreversibilidade, da ausência de alternativas, do pensamento único que, agora, voltam a impregnar toda a sociedade, tal qual a gordura que brilha na fronte ou o muco que escorre, impercetivelmente, de algum orifício, dito natural, do corpo.