«Desde os anos 70, pelo menos, que está activa também em Portugal uma rede internacional de pedofilia que envolve as crianças e os adolescentes da Casa Pia. No nosso país há personalidades do mundo da política, do futebol, empresários e artistas, alguns deles ainda no activo e outros não, que estão implicados na rede. Agora, por causa do processo, todos esses pedófilos e os seus cúmplices estão quietos. Mas a rede não foi desmantelada. Em lugares-chave da Casa Pia estão funcionários que dentro de um ou dois anos, tenho a certeza, activarão mais uma vez este polvo medonho porque, cá fora, estão os pedófilos que nunca foram a tribunal e que continuarão a querer crianças por perversão. Infelizmente, eu sou apenas um empregado de mesa, sem dinheiro. Não tenho quem me proteja e não tenho quem me defenda. Preocupo-me com o que possa acontecer no futuro às crianças que estão na Casa Pia e a outras crianças portuguesas que, não sendo alunas da Casa Pia, também poderão ser apanhadas nesta rede, como aconteceu no passado.» «Conto a minha história por três razões: a primeira de todas é para que a Casa Pia não seja esquecida e não deixe de estar na mira do país inteiro e, sobretudo, de quem deve zelar por ela [...]; em segundo lugar, para que toda a gente saiba a verdade sobre o que realmente se passou; em terceiro, e esta é a menos importante das três razões, porque talvez seja uma maneira de eu conseguir encerrar um capítulo muito triste e muito doloroso da minha vida. Embora saiba que nunca conseguirei esquecer o que se passou...» Francisco Guerra