«Depois da criação do sol, esta obra é, na minha opinião, a que poderá mais iluminar o mundo». Foi com estas palavras que um contemporâneo de Montesquieu saudou a publicação de Do Espírito das Leis. Exageros à parte, de resto próprios do chamado «Iluminismo» que a viu nascer, Do Espírito das Leis é a obra mais abrangente e variada da história da filosofia política europeia. Em nenhuma outra obra do cânone filosófico é possível encontrar uma reflexão articulada tão exaustiva sobre todos os grandes assuntos das ciências humanas: a religião e os costumes, a história e a guerra, a geografia e o clima, a economia e a fiscalidade, a demografia e a identidade nacional, a liberdade e o direito, a grandeza e a decadência, a educação e a família, e, claro, a política. Nenhuma outra obra conseguiu absorver com tanta subtileza a diversidade irredutível do mundo humano. Nenhuma outra obra até então se atrevera a considerara condição feminina como questão política, económica e social de primeira ordem. Pode até dizer-se que Do Espírito das Leis é a primeira grande obra política que apresenta e analisa em detalhe o fenómeno hoje conhecido por «globalizacão».
Do Espírito das Leis é o resultado de vinte anos de meditação. É o produto de uma ciência humana que Montesquieu pretendia que fosse genuinamente integral, isto é, que falasse do homem, da sua natureza e da sua experiência, sem omissões nem reduções.