Os mitos vêm de muito longe («habitam o país da memória»), herdam-se e convidam à reflexão sobre o seu sentido. Apontam para algo que está para lá da realidade objectiva imediata. Postulam uma misteriosa transcendência. Com os seus enigmas inquietantes, podem parecer um pouco estranhos, mas exercem um raro fascínio intelectual, desafiando o esquecimento. Procuram explicar o mundo à sua maneira, fantasiosa, plástica e dramática. Com a sua rica carga simbólica e a sua mensagem enigmática, inspiraram recriações, interpretações múltiplas e comentários sem fim, e voltam a ser constantemente evocados nos diversos géneros literários: em forma épica, lírica e trágica. Num código poético e dramático, os mitos falam-nos dos eternos conflitos da condição humana, recorrendo a figuras paradigmáticas de deuses e heróis. São narrações de intenso dramatismo e misterioso encanto sobre as grandes paixões e os terríveis sofrimentos, sobre temores e audácias, sobre o progresso e as suas ambiguidades, sobre a origem e o fim, a queda e a esperança, o amor e a morte.