A 24 de Maio de 1878 o protagonista principal do romance, o rico engenheiro Um dia na Madeira (1868), cujo subtítulo é Um página de higiene no amor, apresenta-se hoje, mais do que pelas suas qualidades literárias tão distantes da sensibilidade contemporânea, como uma extraordinária chave de acesso a uma paisagem moral que só a requintada sintaxe das emoções do Oitocentos soube produzir, no interior da qual as pulsões de amor e morte se debatem perante um quadro de assumida responsabilidade ética. O romance ilustra exemplarmente como o imaginário oitocentista lidava com a doença do século e com os fantasmas da sexualidade, projectados e postos à prova no paraíso “eternamente virgem” da ilha onde morreu Anne D’Arfet, propenso ao despertar de pulsões carnais e paradoxalmente determinante na resignada aceitação do pathos do fatalismo. Sendo um livro sobre o livre arbítrio, este romance traz até o leitor, através do artifício sentimental da troca de correspondência, o terrível dilema que se coloca à protagonista entre a fidelidade à paixão e o dever moral de evitar a propagação da doença, acompanhando as vicissitudes dos dois amantes que perseguem a felicidade e lutam pelo seu amor, tentando em vão derrotar o Destino. Emma, personagem dotada de uma espiritualidade e de uma nobreza de carácter dignas das maiores heroínas românticas, procura na Madeira o último reduto de esperança para a cura da doença, ao passo que o seu apaixonado William se vê condenado a expiar na determinação da sua índole britânica a dor da perda da amada, pondo também ele à prova o seu carácter, principal protagonista afinal deste romance. Traduzido ainda em vida do autor nas principais línguas europeias (em português com o título de Uma página de amor), este curioso livro que consagrou a Madeira no imaginário italiano e europeu de fins de Oitocentos, como a isola dei fiori e dell’amore, é reproposto agora com a tradução do título original, no ano em que se comemora o centenário da morte de Mantegazza.