Quando estudamos a Divina Comédia de Dante – esse livro maravilhoso em que todo o conhe-cimento, toda a especulação, todas as tristezas e anseios da longínqua Idade Média surgem envoltos na glória de versos eternos – somos colocados perante uma visão do mundo e perante formas de ver os fenómenos da Natureza que hoje nos parecem estranhos, mas de cuja influência ainda não nos libertámos totalmente e, é provável, jamais nos libertemos. É uma cosmologia assaz grotesca à luz dos conhecimentos adquiridos posteriormente – porém tão forjada com tanto cuidado como as teorias de Lucrécio no campo da Física – posta ao serviço de uma teologia pesada nos seus detalhes obsoletos, mas assente sobre verdades fundamentais que a humanidade jamais poderá com toda a certeza perder de vista.