Um pai, no fim da sua vida, dirige-se ao filho para expressar-lhe toda a sua «desolação». Esse monólogo exprime o seu rancor contra todos - familiares, amigos, pessoas com quem se cruza na rua - mas muito particularmente contra o filho. Um filho que se converteu a uma época de conformismo brando, na qual imperam as aparências e a superficialidade. Um filho que escolheu ser um «adaptado» e cuja única ambição é ser feliz. Feliz, uma palavra «asquerosa», inconveniente: «Teria preferido um filho criminoso ou terrorista do que um militante da felicidade». Obra tonificante, construída com a energia do desespero, Uma Desolação é como que uma poderosa bofetada na cara de uma época - a nossa - que coloca os bons sentimentos à frente dos grandes carácteres. Um romance cáustico que, como escreveu a revista francesa Lire, «repousa sobre a convicção de que um homem alegre (quer dizer, trágico) é superior a um homem (estupidamente) feliz».