De repente Darwin faz anos, e Portugal descobrindo-se modernaço e europeu põe-se em bicos de pés a celebrá-lo com entusiasmo, esquecido já do avôzinho Marx a quem ainda há pouco beijava ternamente. (Neo)darwinistas explicam-lhe o comportamento humano, pois a ciência justifica agora a nossa animalidade, visto verdade e ciência serem, na sua percepção, irmãs gémeas, ou sinónimas para usarmos mais rigorosa linguagem.
Este livro pretende apenas levantar questões, interrogar-nos sobre as implicações teóricas (sobremodo no domínio da ética) do paradigma darwinista que no universo intelectual suplantou hoje o marxismo como explicação última do mundo. Não nos iludamos sobre a razão contida na frase de Theodosius Dobzhansky: «Nada em biologia faz sentido excepto à luz do evolucionismo.» Mas os equívocos abundam por todo o lado, porque aquilo que nos chega por moda não tem peso de convicção. Para além de Marx e Darwin, há reflexões a fazer que nos ajudem a assentar um pouco os pés no chão e a perceber melhor o que à nossa volta é ainda escuro. Para não nos deixarmos cair em buracos negros desintegrando o nosso universo interior, como na cena final de 2001 Odisseia no Espaço.