Os 13 anos em que D. João permaneceu no Rio de Janeiro são mal conhecidos em Portugal. Este volume procura preencher uma lacuna e mostrar como o Brasil representou para o príncipe regente, e depois rei, um refúgio seguro onde olhava de longe o xadrez político europeu e se sentia livre das constantes pressões das potências da europa.
A maior parte dos seus conselheiros partilhava dessa sensação de segurança que a residência da Corte em território brasileiro transmitia e esforçava-se por desenvolver ali um novo império. É ressaltada a revolução cultural suscitada pela introdução da imprensa com a consequente circulação de periódicos e obras científicas pelas principais cidades brasileiras e também a passagem da antiga colónia a Reino unido a Portugal.
Torna-se contudo claramente visível, ao longo da permanência no Rio de Janeiro, a divergência cada vez mais acentuada entre os interesses desses dois Reinos. A questão da imposição inglesa de uma gradual abolição do tráfico de escravos, fulcral para todo o Brasil, não sensibilizava Portugal, mais interessado na anulação do tratado de comércio com a Inglaterra.
O problema da escassez de população branca num tão vasto território agudizou-se com a perspectiva da chegada de menos africanos e soluções várias para o resolver foram aventadas, dando-se mesmo início à colonização europeia. Pela primeira vez, um rei europeu foi aclamado na América, mas o movimento constitucional em Portugal, e depois no Brasil graças à tropa portuguesa ali sediada, precipitou o regresso de D. João VI a Lisboa.