D. Carlota Joaquina é, sem dúvida, uma das personagens mais controversas, marcantes e mitificadas da História Portuguesa de Oitocentos. Absolutista intransigente, esta filha dos reis espanhóis, Carlos IV e Maria Luísa de Parma, nunca se terá conformado corn o seu tempo, nem com o papel de consorte de D. João VI que lhe foi destinado na crepuscular Corte Portuguesa de então.
Os acontecimentos dramáticos suscitados pela Revolução Francesa (1789) — como a retirada da Corte para o Brasil e o aprisionamento da Família Real Espanhola (1808) — deram, de uma forma inesperada, um protagonismo que não recusou: o de se declarar legítima sucessora da Coroa Espanhola. Protagonismo que teimaria em
continuar já em Portugal (1821), quer na oposição à Revolução Liberal, quer na defesa dos direitos do filho D. Miguel (1826 -1828).
Compreender a sua actuação política em Portugal e no Brasil e entrar na História de um tempo violento, complexo, marcado por contrastes. Contrastes que se iriam reflectir nas imagens que os contemporâneos e vindouros construíram sobre a rainha, de "Rainha-Mártir" a "megera de Queluz", percebendo, assim, os meandros da Lenda Negra e os alicerces da Lenda Dourada de D. Carlota Joaquina de Bourbon.