Eu gostava de dar aulas de Direito com a voz de todas as vítimas que sofreram injustiças, com o olhar de todos os inocentes que foram humilhados, com o silêncio dos que foram discriminados pela culpa de serem como são, com a angústia dos que aguardam a sentença arbitrária, a desilusão dos acusados sem fundamento e dos condenados sem prova.
Eu queria dar aulas que não fossem uma sucessão de banalidades ditas sem fé ou emoção onde ninguém aprende nada que preste, no cumprimento de um ritual pombalino esgotado e pernicioso.
Eu queria dar-vos não apenas as situações, os conflitos, as regras e as soluções, mas as pessoas por trás de cada caso exposto, a dor que tem cada decisão, as muitas mortes que estão em cada opção. Eu queria dar-vos o outro lado do espelho. O Direito que veio ter comigo e não está na geometria dos autores alemães, nem é acessível como está nas leis e nos livros
… Assim, com cuidado, vou tentar aproximar-me do que deveria ser um curso de Filosofia do Direito que tem na Ética jurídica a sua propedêutica. Um Curso como o sinto cá dentro, como o concebi pensando no Programa, como o tirei dos livros, como me baila nas palavras e como me indigna no exagero do verbo. Sem limites, sem cuidados, com compromissos, com vontade de justiça, convosco.