O presente livro documenta a história de um encontro cognitivo e disciplinar que se pode resumir do seguinte modo: nos anos 80 do século passado a etnografia textualizou-se e o estudo da tradução culturalizou-se. Dito de outro modo, o etnógrafo deixou de poder legitimar a sua autoridade na suposta objectividade dos dados recolhidos no trabalho de campo e depois transformados em artigos e monografias destinados a um público académico institucionalmente situado; o tradutor, por seu lado, deixou de poder ser apenas visto como aquele que, em virgindade contextual, opera transferências de sentidos entre línguas e, ao fazê-lo, produz textos de chegada cujo único requisito é serem “fiéis” aos textos de partida. Do encontro entre tradução e etnografia nasceu o conceito de tradução cultural, o tópico que este volume pretende desenvolver a partir da discussão e utilização a que vários autores o têm submetido em tempos recentes. (in Nota Introdutória)