A vida musical portuguesa na última década do século XX oscilou entre momentos de trevas e momentos de euforia, entre a destruição intencional das orquestras e ópera nacionais e a exuberância de uma oferta artística cosmopolita. Para um povo de memória curta como é o lusitano, reviver esse passado recente através da crítica de Alexandre Delgado é uma forma de compreender o lugar da música erudita no pulsar de uma nação, enquanto barómetro da sua vitalidade cultural. Mais do que uma viagem de curiosidade a um fin-de-siècle que nos diz respeito de tão perto, com o seu desfile de divas e maestros, de solistas, orquestras e compositores, trata-se de aprofundar o próprio significado das manifestações musicais e das políticas culturais. Num estilo acutilante e quantas vezes hilariante, o Autor mostra bem, contrariamente ao sugerido no título, que nem sempre a culpa é do maestro, no que de pior e de melhor ocorre nos pequenos e grandes palcos de Portugal.
EXCERTO:
Aliando a perícia da escrita à perícia do compositor e do intérprete — coisa rara, na nossa história musical, com precedentes em Lopes-Graça e Peixinho —, [Alexandre Delgado] é tão fracturante, nas suas intervenções críticas, como eles. Mas daí também a importância do seu contributo para a dinâmica da esfera pública, no campo musical.
Mário Vieira de Carvalho (prefácio)