Da crise de 1929 a 2009, houve todo um conjunto de instituições e de mecanismos de estabilização que foram centrais na reconstrução dos Estados Unidos, após a grande crise de 1929, e na reconstrução da ordem mundial, na sequência da Segunda Guerra Mundial. Dentre tudo isso, há que sublinhar o New Deal de Roosevelt, a partir do qual se criou, no plano social, o Estado-Providência americano e se criou também, no plano dos mercados, a arquitectura jurídica e financeira que, como reguladora, veio a ser o garante da estabilidade reinante, durante décadas, nos mercados nacionais e internacionais. Foram estes mecanismos que, nos últimos trinta anos, passo a passo, foram minados e eliminados. Com o modelo actual, deixou de haver regras a respeitar, porque as existiam - e quase todas elas vinham da resposta de Roosevelt à crise de 1929 - foram eliminadas. Exemplo: a crise chamada do crédito à habitação nos Estados Unidos, que foi o catalizador da crise actual, mostra que múltiplas formas de criminalidade foram utilizadas à escala mundial - uma Dona Branca planetária dizemos nós, com as montagens financeiras em grande parte fraudulentas da titularização com que a alta finança negociava em todo o mundo. Mas não aconteceu nada a quase ninguém, até parece que tudo foi legal, nada de ilegal. Aliás, foi uma ilegalidade legalizada pelo mercado, pelas bolsas, consentida pelos governos, aceite pelas autoridades reguladoras de todo o mundo: largas dezenas de milhões de dólares ganhos anualmente em bónus sobre títulos sem valor. Enfim, agora como em 1929. Também.