Na melhor tradição da comédia negra policial, num tom muito british e hitchcokiano, Rusty Brown ou, melhor, Miguel Barbosa, envolve-nos em mais um caso de crimes e mistério em que a farsa se combina magistralmente com uma crítica mordaz a uma sociedade social e politicamente doente que se vai afundando num mar de vícios, corrupção e venalidades. Aqui, Lisboa aparece-nos pintada, não com as cores vistosas de um postal para turistas, mas antes com os tons desbotados e sombrios de uma cidade degradada pela licenciosidade mal escondida e pela violência e criminalidade crescente, à espreita onde menos se espera e sob as formas mais perversas e inusitadas. A verve, rica numa linguagem metafórica de todo adequada às personagens e aos ambientes onde elas se movem, bem como o humor cáustico e irreverente de Rusty Brown, explodem neste livro como uma bomba de forte efeito crítico cujos fragmentos atingem e não poupam nenhum dos sectores da nossa sociedade e as deformações de que ela é objecto por parte de quem a distorce e manipula. Uma leitura recomendável a quem saiba reconhecer que o humor e a ironia do autor são duas armas poderosas de que ele se serve para nos fazer rir e pensar.