Na cidade italiana de Bergamo, duas educadoras de infância e um padre responsável pelo Seminário são acusados de abusarem de crianças que têm a seu cargo. Instala-se o circo na cidade e todo o processo judicial servirá de manancial para as estações televisivas e imprensa escrita. Instalado o pânico, toda a Itália segue apaixonadamente o caso de Bergamo.
No seu romance de estreia em Portugal, este é o ponto de partida para Antonio Scurati: questionar o mediatismo irracional que envolve estes casos mais suculentos que perturbam o nosso quotidiano. Ao longo da narrativa na primeira pessoa, o autor tem o dom de nos tornar testemunhas dos acontecimentos, confrontando-nos com uma sociedade assombrada pelo fantasma de um medo paralisante que finta toda e qualquer razoabilidade.
No meio desta espiral, em que a ficção é intercalada com notícias reais, Scurati pergunta pela responsabilidade dos media na exploração do medo e da curiosidade mórbida que transformam uma crónica da vida privada numa obsessão contagiante que toma de assalto um país…