Prostitutas acompanhantes em processo de invenção de si
Representada em romances, filmes e na cabeça das pessoas como vilã, mulher perigosa e imoral, a prostituta é uma personagem presente no quotidiano. Reais ou não, estas representações fazem da prostituta um ser misterioso e profano. Mas, de facto, a prostitua permanece oculta, sem possuir, ou melhor, sem lhe ser reconhecida a identidade de mulher principal capaz de se construir. As acompanhantes, enquanto sujeitos de uma forma reservada e privatizada de prostituição, ocupam o lugar mais secreto do universo prostitucional. Tendo por base uma estratégia etnográfica e praticando uma sociologia à escala individual, mais do que saber se as representações correspondem à realidade vivida pelas acompanhantes, interessa perceber que sujeitos são estes e como constroem a sua identidade...
"Corpo Adentro" é um olhar sociológico que desvenda o denso e oculto quotidiano destas mulheres, prostitutas e acompanhantes. Uma intensa e rigorosa pesquisa que permite compreender como as acompanhantes dão corpo a uma identidade sexualizada. Uma identidade formada numa cultura contemporânea continuamente sexualizada onde o erótico se torna significante para a definição daquilo que os indivíduos são e onde se produzem novas oportunidades, aspirações e novas formas de erotismo e intimidade.
«É uma questão de postura, de atitude. Se você me visse na rua você saberia que eu era... ou uma pessoa que saio muito à noite, conheço centenas de pessoas, movimento-me em círculos mais altos e no entanto ninguém desconfia, ninguém sabe de nada.» Leonor