“O prazer de comer é, desde há muitos séculos, na nossa cultura, um prazer convivial: um prazer que se gosta de usufruir em comum. Pode-se comer só e beber só quando se é a isso constrangido para satisfação da necessidade de matar a fome e matar a sede, mas a procura da voluptuosidade do paladar em solitário é um vício que a moral condena. As sociedades utilizam os prazeres da vida para estabelecer ou fortalecer os laços sociais e na maior parte das sociedades a refeição partilhada é um instrumento de sociabilidade. A refeição deverá ser uma celebração, uma festa onde o prazer se divide entre as pessoas. Prazer de matar a fome, alegria por tomar contacto com um prato e honrar uma receita necessariamente sacralizada, e de ver os outros comungar com a mesma exaltação.
Foi com exaltação e muito prazer que reparti mesa e mantel com todos os meus convidados presentes nesta recolha.
Amizades, afinidades e simpatias proporcionaram-me refeições de memória e é dessa memória que aqui dou conta.”