«Era uma vez uma mulher que, ao escrever sobre contos, reparou que poderia ser assim: Era 1 ×... contos de reis. Contos de reis!? Quantos reis? E rainhas? Quantas? Contos por serem histórias ou contos de reis por ser dinheiro? Os números misturaram-se com palavras e os contos casaram-se com as contas. Teria sido sempre assim? Contar histórias e contar números em todo o mundo, modo igual (=) de dizer ou enunciar? Ou próximo (≈) contos e contas? Seria, alguma vez (alguma ×), possível cruzar (×) contas e contos e cantos e que mais (+)? Havemos de vos contar muito sobre esta familiaridade entre letras e números daqui a pouco, nesta obra — com ensaios, poesia, provérbios, lengalengas, contos, cantos e tudo o que + nos ocorreu. [...]
Matemáticos, poetas, colectores de cantos e contos populares, ensaístas, pedagogos, escritores e artistas plásticos, pessoas sensíveis ou sensibilizadas para as relações tão subtis quanto óbvias entre disciplinas distantes, afinal parentes, todos se prestaram ou emprestaram textos que decidimos organizar em capítulos, a ler um de cada × (sinal inventado no século XVII). Assim nasceu este ousado livro, conjugando verbos com números, aritmética com literaturas e estas com geometria.
Ao leitor caberá jogar com somas e subtracções, formas geométricas e algarismos, ecoando bancos de escola onde, sentado, lhe competia preencher muito papel aos quadradinhos com operações aritméticas, saber distinguir classificações de triângulos, descobrir áreas de quadrados e perímetros de circunferências. Decerto lhe saberá bem imaginar se, nestes tempos que correm e aceleram, ora aligeirando, ora complexificando, atentos mais a valores económicos do que a grandezas éticas, não valeria a pena demorar-se com jogos de ter em conta, dar conta contando contos ou mesmo brincar-a-fazer-de-conta.»