No jardim do consulado ressoavam passos vidrosos; seriam talvez os ecos das cardas alemãs pisando as pedras da França, marchando pelo cais de Bordí©us. Não, não eram ainda as botas dos soldados, mas a correria dos garotos sobre o saibro a estilhaçar-se nos ouvidos do Cí´nsul. O choro e o riso destas crianças das mais variadas nações, que í volta da casa esperavam, faziam-se pancadas de aldraba repetindo nos seus sentidos todos prolongados gritos de socorro. Releu as instruções enviadas pelo Ministí©rio dos Negócios Estrangeiros. Não encontrava ponto ou vírgula que encaminhassem o sentido de modo a permitir-lhe conceder vistos, pelo menos aos que maiores perigos corriam com os nazis. Como fazê-lo sem arriscar a carreira? Como poderá alguí©m preso ao mundo das coisas por uma dúzia de bocas que pedem pão, e tambí©m pelas cadeias concretíssimas da fartura, do conforto e do êxito, desprender-se delas í força da ideia abstracta do fazer bem sem olhar a quem?