Nós, leitores, sentimos como nunca antes que entramos num mundo secreto, que nos foi aberta uma janela a partir da qual observamos a autora, no seu dia-a-dia de médica, despida de orgulho ou preconceito, a expor-se sem remorsos. Com ela atravessaremos os corredores do hospital, ao longo de noites e dias vividos no fio da navalha. E nesse percurso iniciático, é-nos oferecida uma visão precisa, poética, lúcida, de um universo já não povoado de médicos e enfermeiros de bata, mas sim de pessoas a quem foi retirada a máscara - seres humanos falíveis, com um bisturi na mão e um coração como o nosso, eufórico ou amedrontado, sempre vulnerável.
Confissões de uma Cirurgiã é uma pequena obra-prima, unanimemente aclamada pela crítica. Com uma narrativa crua e realista, é um tratado sobre o corpo e a sua alma, que vai beber à nobre tradição de autores como Tchekov ou Somerset Maugham - em tempos também eles trocaram o escalpelo pela pena.