Uma exigência fundamental do pensamento contemporâneo é acabar com a «filosofia política». O que é a filosofia política? A sua operação central é entregar a política ao exercício do «livre juízo» e da «discussão», num espaço público em que não contam em definitivo senão as opiniões. Sabemos que, muito antes de ser arendtiano, ou kantiano, o tema da oposição irredutível da verdade e da opinião é platónico. O que, em contrapartida, não é platónico é a ideia de que estaria assim eternamente votada à opinião, eternamente separada de toda a verdade. Excepto para quem pensa que o comentário de café ou a conversa entre amigos, constitui «a própria essência da vida política», é com efeito claro que o conflito de opiniões não é política senão na medida em que se cristaliza numa decisão. A questão de uma possível verdade política deve então ser examinada não apenas do ponto de vista da «discussão», mas no processo complexo que entrelaça a discussão à decisão.