Passados dez anos sobre a Cimeira da Lajes e o envolvimento português na preparação da intervenção no Iraque, importa perceber as razões que levaram à decisão de Lisboa e as motivações que justificaram o papel de Durão Barroso como anfitrião do encontro entre George W. Bush, Tony Blair e José María Aznar. Envolta em polémica internacional, dúvidas permanentes, certezas absolutas e num debate aceso que redefiniu alinhamentos entre países, a decisão portuguesa nunca foi explicada com o rigor que esse protagonismo exigiria. A intenção com este trabalho é contribuir para o entendimento de uma decisão da política externa portuguesa, a mais polémica das últimas décadas, um processo que extremou posições no interior do consenso partidário, mostrou uma tensão entre órgãos de soberania e acabou por conduzir a quatro moções de censura simultâneas ao governo. Tudo isto sobre uma matéria de política externa. Nunca tal tinha acontecido na democracia portuguesa.
«Quase todos os intervenientes internacionais publicaram memórias, testemunhos, deram entrevistas ou aceitaram ser confrontados em comissões de inquérito. Em Portugal, praticamente nada foi escrito, nada foi descrito, nada foi publicado. Por isso fui ao encontro dos protagonistas. Entrevistei alguns, conversei com outros, na procura da fiel história da decisão portuguesa em apoiar a guerra no Iraque e organizar a Cimeira das Lajes.»