Sabe-se quanto a especificidade do campo educativo, em parte devido à facilidade com que se misturam planos, está à mercê de análises ligeiras e de conclusões enviesadas. Por estas razões procurámos fazer passar, como ideia chave, um conceito e uma imagem da Educação como fenómeno central e estruturante, quer a nível pessoal (imprescindível na formação de cada ser humano) quer social (socialização e coesão). As implicações desta centralidade são de toda a ordem e em todos os domínios, até mesmo na forma como todo o conhecimento se origina, se estrutura e se desenvolve. Com efeito, a problemática epistemológica é um dos temas centrais em Ciências da Educação, enquanto domínio de estudo, de análise e de investigação.
É nesta perspectiva que este trabalho se desenvolve. Na primeira parte procuramos esclarecer a natureza e evolução dos conceitos de ciência, de verdade e de método; os contributos mais importantes ao longo da história do pensamento para esse esclarecimento, e a interacção que entre os três conceitos se estabelece na produção e avaliação do conhecimento científico.
Na segunda, analisamos a especificidade epistemológica das Ciências Humanas, e tentamos compreender o seu esforço de autonomização face ao positivismo dominante.
Na terceira parte desenvolvemos, de modo problematizador, a epistemologia particular das Ciências da Educação, assente na especificidade do campo educativo e na centralidade do conceito de Educação. É nesta base que se define a identidade das Ciências da Educação, que elas se demarcam das outras Ciências Humanas, e que se legitima a sua plurirreferencialidade.
Procurámos, enfim, promover uma reflexão sobre o lugar e o carácter da investigação que tem por objecto o “processo educativo”, no quadro do pensamento contemporâneo em torno da natureza da produção científica, em geral, e das Ciências Humanas em particular. Quisemos também oferecer ao leitor um conjunto de utensílios conceptuais que lhe permita ter uma atitude crítica fundamentada face à multiplicidade de discursos que tomam a “Educação” como pretexto.