“…Pois podem ter a certeza que a “embirração” que Eugénio de Andrade nutria pelo Porto e o levava a sentir-se nele como que um estranho, procedia do facto de não ser com a cidade que se identificava o seu ser cultural e simbólico – vindo, como tinha vindo, di-lo ele, “daquelas aldeias da Beira Baixa que prolongam o Alentejo e onde desde pequeno, de abundante, só conheci o sol e a água”. Era preciso distinguir nele o homem estético, capaz de fazer o elogio de uma cidade – a do Porto – “onde o sol, incidindo nos vidros das clarabóias e trapeiras e mirantes, enche o crepúsculo de brilhos, parecendo então mais imaginário que real”, do ser telúrico que lhe era adverso – mas adverso dela como de certeza de qualquer outra cidade.”
Luis Neiva Santos