- Será que a noite é um grande mar de água doce em que nos devemos afundar?
Ele respondeu que a noite nunca estava só. A noite estava sempre casada, às vezes com um Janeiro, outras com um Dezembro. A outra calou-se por momentos e roubou-lhe a bebida. Quando falou de novo, disse que a noite era indistinta e nunca poderíamos saber se estava casada ou não. Ele disse que as noites não são iguais porque os meses também não. Quando finalmente a outra se moveu do sítio para um abraço finito, Miguel não sabia outro gosto senão o da derrota. Pensou o tempo todo, e porquê, e porquê, e porquê. Sem se justificar, fê-lo. A noite incerta de escuridão guardou-lhe o segredo. Depois, caminharam os dois nas ruas de miséria.