PRÉMIO VERGÍLIO FERREIRA 2008.
Quatro gerações de mulheres revelam o desenho do íntimo feminino…
No meio do caminho, Helena recupera o corpo de mais uma cicatriz, quase fatal – o coração que falha… mas revive. É então altura de lembrar as suas idades, o convívio contido com a mãe, Eduarda, a distância atenta com a filha, Matilde, mas, sobretudo, o convívio com a avó, Beatriz, lembrando dela que a pele não deve chegar intocada à última morada.
E Helena viveu: primeiro, dividida entre uma amizade de infância e um casamento de conveniência, que oficializa metida dentro de um vestido inacabado, derradeira maldição da amiga Mariana, que assim vinga a sua sexualidade interrompida.
Depois, dividida entre a obediência à tradição familiar, governada pelo verbo «manter», e o desejo de marcar na pele uma vida adiada, longe da clausura, que até então apenas pôde entrever durante uma viagem pela Europa, na adolescência. Helena acolhe agora a vida plenamente, entregando a pele à experiência verdadeira do amor, das coisas mais simples que se havia negado, até que a doença ameaça a sua vida e o seu coração.
Perto do destino final, há oportunidade de redimir a rivalidade entre Helena e Mariana com um vestido perfeito, fechado, e cumprir assim o destino que a cada uma pertence… agora, mas não tarde de mais.
Cartografia Íntima é notável ao percorrer quatro gerações para encenar o retrato de uma mulher em transformação, procurando, no desenho do seu íntimo, a essência da intuição e psique femininas. O desencontro de amor, o destino pessoal e a tragédia de uma doença grave, sem ressentimentos, sem uma percepção fatalista, são temas fulcrais donde as personagens emergem com uma dimensão verdadeiramente humana e rara na literatura portuguesa contemporânea.