«O manuscrito cujo texto estabelecido se apresenta aqui foi elaborado por Agostinho da Silva em 1986, quando então contava oitenta anos de vida. Permaneceu inédito, no entanto, ao longo dos últimos dois decénios, junto a tantas outras páginas interessantes que escreveu e que, por um motivo ou outro, não tendo sido igualmente publicadas, quedaram guardadas nos arquivos cuidadosamente mantidos pelo seu primogénito, o antropólogo e professor da Universidade Federal da Bahia, Pedro Manuel Agostinho da Silva [...]
[...] Esta autobiografia não obedece a critério cronológico, antes o subverte, nem a uma preocupação de ter de relatar os acontecimentos ou experiências biográficas as mais relevantes, as factuais como as psicológicas. Livremente escrita, o seu devir foi-se dando pela dinâmica do lembrar: a do tempo entrecruzado, de presente e passado, a dos fluxos e refluxos que constituem as redes do imenso e magnífico tecido que é a memória humana – da superfície do agora ao profundo –, com suas tramas e urdiduras flutuantes, desconcertantes concertos de recordações e esquecimentos de tempos e de espaços e, no caso de George Agostinho da Silva, como se verá, de além-tempo e de além-espaço, na linha metafísica do seu mestre Platão, ‘não mestre quando legisla, mas quando é dramaturgo, quando é poeta filósofo’.»
Amon Pinho Davi e Romana Valente Pinho
in Introdução