Quando morreu a mãe, Baptista-Bastos fica a viver com o pai e com a avó. A Avó Palhaça cumpre com todas as preocupações educativas, ir para a escola, comer bem. O pai, por seu lado, pai era um desafortunado, dava-se muito com gente razoável: ladrões de sovaco, proxenetas, putas e mulheres de virtude, mas detestava polícias, bufos e fura-greves. E tinha uma particularidade: chamava de «grandes lobas» às mulheres para quem olhava com gula e ansiedade, bebia vinho nas tabernas com amigos e conhecidos de ocasião, jogava burro americano e não virava a cara a uma boa briga. Num dia feriado, enquanto assistia ao filme E Tudo o Vento Levou, na matiné do São Luiz, tem um pressentimento. Sai e apanha um táxi para casa, onde a avó o esperava para poder repousar em sossego e em paz. Morreu docemente, sem ter tempo de ensinar a dançar a valsa ou de apanhar o carriléctrico até ao Dafundo». Recordações sentidas e sinceras de uma infância passada no pitoresco bairro da Bica, mostrando que também os grandes escritores têm o seu lado normal.