De memória invulgar, minucioso, inteligente, extremamente vaidoso, visceralmente salazarista, com uma folha de serviço «brilhante», Fernando Gouveia foi um dos investigadores da PVDE/PIDE/DGS mais temidos pelo Partido Comunista Português (PCP).
Era um homem baixo, de rosto fechado, sempre de chapéu e fato engomado, marcado pelo nascimento ilegítimo e por uma infância dura, pai de sete filhos, fruto de vários casamentos.
Este inspector do Gabinete Técnico da Polícia Política conhecia como ninguém os métodos do PCP, a forma de actuação dos seus militantes, funcionários e dirigentes clandestinos, não só a nível político como a nível pessoal. Pela sua mão foram apreendidos documentos fundamentais que Fernando Gouveia estudava minuciosamente, de forma a desmantelar o puzzle comunista, assim como foram presos centenas de comunistas, vítimas de violência e de toda a espécie de torturas, chantagens e pressões psicológicas.
Irene Flunser Pimentel, Prémio Pessoa 2007, traz-nos o retrato não de um herói ou de uma vítima, mas de um agente de repressão do Estado Novo. Com uma investigação baseada no arquivo da PIDE/DGS e na leitura das memórias publicadas, pelo próprio, em 1979, esta historiadora transporta-nos para o interior da polícia política, explica-nos os seus métodos e as suas operações, e conta-nos a história da resistência do Partido Comunista desde os anos 30.