Desencadeou guerras e revoluções e originou a concepção de regimes dietéticos. Dele dependeram algumas economias e formas de subsistência. Em parte, a colonização da América do Norte foi feita com o seu precioso contributo nutritivo. E, para os muitos milhões de seres humanos que alimentou, constitui um tesouro mais precioso que o outro. Não há duvida: o bacalhau tem desempenhado um papel fascinante e crucial na história do mundo.
Em termos gerais, podemos dizer que a história do bacalhau se estende por um bom milhar de anos e quatro continentes. Desde os Viquingues, que perseguiram o bacalhau através do Atlântico, e os enigmáticos Bascos, que foram talvez os primeiros a fazer comercialização deste peixe ainda na Idade Média, até Bartholomew Gosnold - que, em 1602, deu o nome de Cape God (cabo do Bacalhau) a determinado lugar na costa norte-americana, a leste de Boston - e Clarence Birdseye - que, nos anos 30 do século XX, criou a indústria do bacalhau congelado.
Mark Kurlansky apresenta-nos uma extraordinária galeria de exploradores, mercadores, escritores, cozinheiros e pescadores, é claro, cujas vidas se cruzaram com este peixe polifacetado. Escreveu neste livro a crónica tanto da política da Liga Hanseática acerca do bacalhau como as guerras a que ele serviu de pretexto nos séculos XVI e XX. Mas, por outro lado, enriquece o seu relato com pormenores de carácter gastronómico, recorrendo quer a receitas de culinária quer ao folclore, desde a Idade Média até aos nossos tempos. E ainda amais: dá vida ao próprio bacalhau, descrevendo a sua personalidade, os seus hábitos, a sua família alargada e a sua tragédia, isto é, como é que o peixe mais lucrativos da história se encontra ameaçado de extinção.