Orquídea é uma prostituta de Lisboa que vê morrer em cima dela em pleno ato sexual um cliente holandês. Orquídea não é uma pessoa insensível ou demasiado calejada pela vida e profissão que pratica. E de qualquer modo o seu “tio Hans”, nome atribuído ao falecido em tão inoportuna situação, tinha-lhe despertado algum interesse humano pela personalidade curiosa que lhe demonstrara, do tipo “a vida ou se vivia mesmo ou mais valia morrer. Lá vegetar não era com ele”.
O tio Hans terá morrido feliz. Para quem se gabava de “Terrei feito muita asneira na minha vida,(…)mas vivi realmente uma existência de homem”, a forma como morreu só veio confirmar a sua filosofia.Orquídea vê-se como única pessoa a importar-se com o morto – a família rica dele não se mostrou muito interessada no acontecimento – e enquanto ela vive outras histórias, suas e de outros, enquanto revive amores e desamores, o tio Hans vai estando sempre presente, até como bitola de comportamentos na sociedade.
Segundo o autor da novela, …” Para Orquídea era o morto que partia, só ele; e cá em baixo a vida persistia, mas uma vida dissoluta, de madrugada sem forças, (…) A vida tornava-se àquela hora quase intransitável, uma comédia tão torpe, uma beberagem tão repulsiva…
Ora! Era a madrugada, a confrangedora madrugada dos pesares e dos pavores…