António Ferro era um homem singular. Escritor, jornalista, adquiriu notoriedade com o seu livro sobre a viagem em torno das ditaduras europeias nos anos 20 do século XX. Soube convencer Salazar de que o povo precisava de espectáculo, mostrou-lhe que tinha um programa e objectivos para a promoção do regime e foi nomeado director do organismo que se encarregaria das actividades de propaganda do Estado Novo. Durante quinze anos fez do país um «teatro» e foi o seu encenador: organizou exposições, criou prémios artísticos e literários, financiou filmes e documentários, criou uma companhia de bailado, um teatro do povo, um Museu de Arte Popular. O turismo teve com ele uma inusitada relevância através, entre outros, dos incentivos à qualidade de hotéis e restaurantes e do programa de Pousadas.
Nada lhe escapou, dir-se-ia. Mas, quando a Segunda Guerra Mundial terminou, percebeu-se que o país pouco mudara. É desta contradição que este livro trata, sem esquecer as convicções de António Ferro e a importância que sempre deu à palavra.