Numa escrita ora capaz de evocar pinceladas rápidas e precisas e de nos transportar para o universo das artes plásticas, ora semelhante à objectiva de uma máquina fotográfica, de acordo com as diferenças de tom, de luminosidade e de perspectiva, o autor vai criando imagens que se impõem pela vibração que se lhes escapa dos contornos. Parte de uma frase ouvida, de quaisquer palavras lidas, de alguém que avistou na rua, de pequenos pormenores, em suma, de insignificantes nadas, e imagina o resto, o que aconteceu ou poderia ter acontecido, misturando realidade e fantasia e construindo o que Eugénio Lisboa considera o “surpreendente testemunho de combinações improváveis: abundância e exigência, banalidade e sofisticação, obstinação e desenvoltura, pungência e malícia, melancolia e ironia, leveza e profundidade, rapidez e demora”.