Durante mais de quatrocentos anos, a arte do ballet tem estado no âmago da civilização ocidental e as suas tradições funcionam como um registo do nosso passado. Uma bailarina a dançar a Bela Adormecida é um elo numa longa cadeia de dançarinos que remonta à França e á Itália do século XVI. Os seus movimentos graciosos evocam um mundo de cortes, reis e aristocratas, mas os seus passos e gestos também estão marcados pelas mudanças drásticas na dança e na cultura da época. O ballet foi moldado pelos seus tempos: pelo renascimento e o classicismo, pelo iluminismo e o romantismo; pelo bolchevismo e modernismo, mesmo pela Guerra Fria. Nesse sentido, Os Anjos de Apolo é também a primeira história cultural do ballet.
O ballet é único: não tem textos escritos nem uma notação padronizada, ao contrário da música, por exemplo. É uma arte de contar histórias que é transmitida de mestre para aluno, e os seus passos não são apenas passos – são um documento vivo de cultura e tradição. Embora a linguagem do ballet seja partilhada por dançarinos em todo o mundo, os seus intérpretes foram desenvolvendo escolas nacionais distintas – francesa, italiana, dinamarquesa, russa, inglesa e norte-americana –, com tradições e expressões próprias, muitas vezes resultantes de convulsões políticas ou ruturas culturais.