Entre 1934 e 1943, um casal de namorados, Maria de Lourdes e Alfredo, escreveu mais de seiscentas cartas, recentemente encontradas no lixo. Ela era costureira, ele, empregado de escritório. Apesar de namorarem e depois casarem, passam muito pouco tempo juntos, encontrando nas cartas uma forma de comunicar. Ela escreve com muitos erros de ortografia, ele escreve melhor. Falam dos seus encontros e desencontros, da vida comum de pessoas comuns, do muito cinema que vêem, dos poucos livros que lêem, das festas que frequentam. Fora do seu pequeno mundo, o que acontece pouco lhes interessa. Falam também da «embriaguez», ou seja, do sexo, sobre o qual ele sabe demais e ela parece saber de menos.
Não há nada de excepcional nas suas vidas e nas suas cartas, salvo constituírem um testemunho único e real da vida dos portugueses comuns. Também por isso, quando se começa a ler estas cartas, não se consegue parar.