No meu tempo a noiva era uma coisa séria. Iam emocionadas. (…) Os pais choravam, e a noiva chorava também! (…) Não se sabia se iam para bem, se iam para mal. (…) Elas tinham de aguentar tudo porque o casamento era para a vida. Esperança, 90 anos
A mulher deveria ser perfeita. Uma dona de casa exemplar, sempre atenta ao marido e aos filhos, esmerada nas artes da cozinha e do bordado, com comportamento aprumado e decente. Nos anos 50, e sobre o olhar atento, conservador e católico de António de Oliveira Salazar, timoneiro de um Estado Novo repressor, o amor e o sexo eram temas tabus, a que se devia dar pouca importância. Prevalecia a moral e os bons costumes. Um mundo recheado de valores puritanos, de vexame, opressão, tirania e recalcamento, para todos os gostos e para ambos os sexos, mas sobretudo para o feminino. Durante esta década, os direitos das mulheres portuguesas foram abafados, circunscritos, diminuídos. Forçadas à submissão de género, à dependência económica e afectiva, bem como ao apagamento sexual. Isabel Freire conta-nos como se namorava nos anos 50, do flirt ao beijo na boca, explica-nos que a «mão na mão» dava direito a uma multa no valor de 2$50, já a «mão naquilo» valia 15$ de coima, fala-nos da vida boémia dos bordéis de Lisboa, do carácter vicioso do sexo «bucal», das contraceptivas lavagens vaginais, dos partos em casa e dos abortos clandestinos, das expectativas e ansiedade dos noivos na noite de núpcias, das famílias felizes e da peste que era o divórcio. Como viveram na intimidade os homens e as mulheres que são hoje pais, avós e bisavós de gerações com princípios tão distintos? Brincava-se muito com esta máxima: «Mão na mão. Mão na coisa. Coisa na mão. Coisa na coisa é que não.» Estávamos nos anos 50 e o grande interdito era realmente o corpo.