"Raramente se encontra no estrangeiro tão grande amor pela Dinamarca como precisamente na família O'Neill" - as palavras de Hans Christian Andersen, em 1866, expressaram como era forte a já então longa relação do seu país com essa família de Portugal com origem irlandesa. E não era apenas ditada por razões de ordem comercial, com a visita constante dos navios com o pavilhão do Dannebrog. Tudo começara em 1825, quando José Maria O'Neill fora proposto para o consulado em Lisboa. Três anos depois enviou os seus dois filhos varões mais velhos para a Dinamarca, ao mesmo tempo que Portugal soçobrava em sobressalto para a guerra civil. Esses anos passados na Dinamarca, com o conhecimento da família Wulff, do jovem Hans Christian Andersen e de outros amigos, seriam bastante agradáveis para os dois irmãos O'Neill. Ao mesmo tempo, a sua numerosa família, estabelecida entre Lisboa, Setúbal, Londres e Paris, defrontava-se com as muitas vicissitudes da época, fossem as represálias dos apoiantes de D. Miguel ou a eclosão da temida "cólera-morbus". Para os dois jovens irmãos foi também o tempo de confrontar duas formas de viver e duas sociedades bem distintas. E desses curtos mas inesquecíveis anos na Dinamarca ficariam marcas para o resto das suas vidas.