O caso do Banco Espírito Santo é emblemático: os números deviam ser reais, mas não eram - e à medida que o banco implodia, descobriam-se mais "buracos" nas contas. O banco não caiu apenas por causa da contabilidade falaciosa; mas se os livros estivessem certos, o desfecho poderia ser outro.
Historicamente não foram apenas bancos que caíram por causa das más contas. Como demonstra o professor universitário Jacob Soll neste ensaio brilhante, a má contabilidade explica em grande parte as crises globais de 1929 ou de 2008. Ou, recuando no tempo, o declínio da França do Rei Sol que, após a morte do seu rigoroso ministro Colbert, deixou que as finanças do império entrassem em roda livre.
O Ajuste de Contas é pois a crónica do imenso poder da contabilidade, e do uso que dela fizeram reis, imperadores, nações e empresas. Porque uma coisa são os números, e outra é a forma como foram sendo manipulados ao longo de séculos até ao presente - por mais auditorias ou agências de ratings que haja, até os estados democráticos "martelam" balanços ou escondem passivos, com consequências dramáticas.
Tour de force, que nos leva da Roma Antiga ao Vaticano - e nem falta sequer um breve enquadramento à história portuguesa e aos frustrantes esforços do Marquês de Pombal para pôr as nossas finanças em ordem.