Romance de base histórica quee assente em factos reais que a tradição local, já velha de quase cem anos, consagrou, descreve-se e analisa-se no texto a seguir o comportamento de uma discutida figura que, embora rara, teve negra e reservada projecção cerca dos anos vinte do século passado, iniciando-o pela rememoração dos dois trágicos e mortíferos acontecimentos de âmbito mundial ou global, uma grande guerra e uma grande epidemia, nos quais a mesma figura esteve inserida e de que foi activo protagonista.
Excerto:
(...)Segurado fez uma pausa e, em tom de voz inaudível, arriscou a pergunta: - Estando o seu pai nesta situação, neste sofrimento sem esperança, aceitaria que se procurasse libertá-lo mais cedo, ou seja, neste momento, desta vida?... Seria uma obra de misericórdia para ele, que deixa de sofrer, e para si que, como disse, muito lhe dói este sofrimento!... Deste modo, abstraindo da urgência de aproveitar este barco para o Brasil, aceitaria, no seu íntimo, esta solução? Anselmo, que o ouviu com ar abismado, quedou-se uns momentos a observar com os olhos rasos de água as arestas das pedras nuas do quarto e, a seguir, fitando o rosto exangue do pai, respondeu num murmúrio: - Aceito, sim senhor... Que Deus me perdoe ir contra o destino que lhe terá reservado!... Mas, quem faria isso?!... E não andaríamos aí a rondar o cometimento dum crime?!... - O quem, serei eu... - respondeu o enfermeiro seguro de si - Saia para a rua e deixe o enfermo comigo... E deixe-me dizer-lhe para o libertar de quaisquer remorsos, que são naturais, que já pratiquei esta acção algumas vezes... A sua aplicação é muito mais vulgar do que possa imaginar..."