Esta Obra está também disponível na versão Inglesa.
O presente livro vem apresentar uma escolha de cem obras da colecção do CAM. Traduzindo desejavelmente uma personalidade própria, as colecções permitem, contudo, leituras renovadas e múltiplas visões curatoriais. Este livro é disso testemunha.
Sendo certo que nenhuma colecção pode, por si só, representar a arte produzida em determinada época, esta colecção constitui o mais sistemático conjunto de obras do século XX em Portugal e, no que se refere à primeira metade daquele século, talvez mesmo o único conjunto representativo acessível ao público.
É essa, sem dúvida, a primeira responsabilidade do CAM: a de preservar, investigar e tornar acessível ao maior número possível esse património artístico à sua guarda.
É também missão do CAM desenvolver e renovar essa colecção, para o que necessita estabelecer uma proximidade atenta e informada com a criação contemporânea. Na realidade, essa proximidade, requerida também para a concepção da programação, implica, naturalmente, o acompanhamento dos trajectos estéticos dos criadores, mas também uma atenção às condições dos percursos formativos e profissionais, às necessidades de diálogo internacional que a arte contemporânea incorpora na sua própria natureza. O convívio interdisciplinar que ela hoje pressupõe poderá encontrar, ainda, no CAM, o lugar apropriado, atendendo até às disponibilidades do seu espaço de acolhimento.
Assim, no início de um novo ciclo de vida do CAM e com vista a desenvolver todas as suas potencialidades, perspectiva-se que este venha a centralizar a coordenação das actividades desenvolvidas pela Fundação Gulbenkian no âmbito das artes visuais, fazendo prevalecer as sinergias desta integração sobre a lógica da compartimentação orgânica.
Os museus são tradicionalmente locais de preservação e de aprofundamento do conhecimento do seu património, considerando ainda a actividade educativa como parte da missão de serviço público. Mas hoje aqueles, sobretudo os de arte contemporânea, definem-se cada vez mais como instituições significativas da vida urbana, testemunhos icónicos da arquitectura dos nossos dias, lugares de encontro, espaços conviviais de inclusão, e onde se vão também desenvolvendo actividades de natureza diversa, que alguns atribuem mesmo à "tirania do entretenimento". Mas sempre sem perder de vista, nem perturbar, a razão de ser de um museu, que é permitir a experiência, por definição única e desejavelmente enriquecedora, do encontro entre o olhar demorado do visitante e as obras de arte, entendidas estas não como suporte de uma narrativa crítica ou de uma visão curatorial, mas como objectos singulares que revelam beleza, conferem sentido, ou suscitam interrogação: que valem e falam por si.
Teresa Gouveia
Administradora